CARTA DE DEUS
Albert Einstein
A palavra Deus é para mim
nada mais do que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma
coleção de lendas honoráveis mas ainda assim primitivas que são, do mesmo modo,
muito infantis. Nenhuma interpretação, não importa quão sutil seja, pode (para
mim) mudar isso. Estas interpretações sutilizadas são altamente influenciadas
de acordo com sua natureza e tem quase nada a ver com o texto original. Para
mim a religião judaica, como todas as outras religiões, é uma encarnação das superstições
mais infantis. E o povo judeu ao qual eu felizmente pertenço e com a
mentalidade do qual eu tenho uma profunda afinidade não tem, para mim, qualquer
qualidade diferente dos outros povos. De acordo com minha experiência, eles
também não são melhores do que outros grupos humanos, embora sejam protegidos
dos piores cânceres por falta de poder. De outra forma, eu não posso ver
qualquer coisa "escolhida" a seu respeito.
No geral, eu acho doloroso que você clame uma
posição privilegiada e tente defender esta ideia através de dois muros de
orgulho, um externo como um homem e um interno como um judeu. Como um homem
você demanda, de certa forma, uma dispensa da casualidade de outra forma
aceita, e como um judeu o privilégio do monoteísmo. Mas uma casualidade limitada
não é mais, de forma alguma, uma casualidade, como nosso maravilhoso Spinoza
reconheceu incisivamente, provavelmente o primeiro a fazê-lo. E as
interpretações anímicas das religiões da natureza não são, em princípio,
anuladas pela monopolização. Com tais muros nós só podemos alcançar uma certa auto
ilusão, mas nossos esforços morais não são melhorados por eles. Pelo contrário.
Agora que eu abertamente expus nossas diferenças
em relação às convicções intelectuais, é ainda claro para mim que nós somos bem
próximos no que se refere às coisas essenciais, ou seja, na nossa avaliação do
comportamento humano. O que nos separa são somente proposições intelectuais e
racionalizações na linguagem de Freud. Desta forma, eu acho que iriamos nos
entender muito bem se falássemos de coisas concretas. Com agradecimentos
amigáveis e os melhores desejos.
Seu,
A. Einstein