“Deus é desnecessário para explicar a criação, diz Hawking”
Esse é o título de uma notícia (para anunciar o novo livro de Hawking) que li há pouco no estadão.com.brhttp://www.estadao.com.br/noticias/vidae,deus-e-desnecessario-para-explicar-a-criacao-diz-hawking,604250,0.htm
A ainda atual discussão
Deus e criação evidencia, um diálogo "religião e
ciência" sem futuro. Para haver a possibilidade de um diálogo frutífero
entre as religiões, entre a religião e a ciência, é preciso
repensarmos o conceito de Deus.
Essa
notícia aponta para a ideia que é defendido nesse texto, que Deus é
uma “necessidade” humana. É claro, Deus aqui não é o Deus de uma
determinada religião mesmo que, evidentemente, não o exclua (leia: O que significa a palavra "Deus"? ).
Enquanto insistirmos que Deus é (apenas) o Deus cristão, ou o Deus muçulmano, ou o Deus dos indígenas, ou qualquer outro Deus associado a alguma religião estabelecida, teremos dificuldades de perceber a “existência” de Deus em outros lugares, por exemplo, nas ideologias, nas filosofias da vida, no Estado e na ciência. Também teremos difuculdade de perceber a “religiosidade” a ele associado. Para cada um desses, o Deus do outro não passa de (no máximo) um ídolo que deve ser combatido.
Por isso também Hawking (e outros) pode/precisa dizer que “Deus é desnecessário para explicar a criação”. Ele pode dizer isso pois já existe algo, além dos Deuses das tradições religiosas, que pode propor outras soluções para os grandes mistérios do Universo. Algo, segundo ele, mais confiável. A ciência faz essa reivindicação e não dá para ignorar isso. E ele precisa dizer isso, pois, para ele, as evidências e seu sistema de sentido "exige" isso dele.
Mas Hawking não pode simplesmente tirar Deus sem colocar algo no seu lugar. O lugar de Deus na vida dos humanos não pode simplesmente não-existir, nesse caso ele substitui Deus por uma lei física. Mesmo que já seja possível afirmar que o(s) Deus(es) das grandes e pequenas religiões é(são) redundante(s) na questão da criação, não é possível afirmar a não-necessidade de Deus mesmo.
A notícia segue:
No atual sistema de sentido, os diferentes Deuses precisam se excluir mutuamente para manter a sua verdade. Por outro lado, um sistema de sentido no qual se aceita que o Deus do outro (e seu grupo), mesmo que de forma incompleta, também dá a resposta adequada ao que o reverencia, torna mais fácil o diálogo. Se aquilo que em última instância confere sentido à nossa existência é Deus, então todos temos um Deus (não importa o seu nome). Esta forma de ver estas coisas, onde a verdade de um Deus não está em algum tipo de “prova” e sim no sentido que ele confere ao conjunto, fica mais fácil aceitar o outro e, assim, de forma adulta, discutir questões relevantes para as pessoas e seu mundo. Questões éticas (também para as religiões) precisam ser resolvidas a partir da interação de todos os Deuses, para o bem do indivíduo e seu mundo. Uma característica comum a todos os Deuses (inclusive da ciência) é o bem estar, a cura, a salvação da humanidade, porém, nessa busca a prática predominante até agora tem sido a da destruição ou “diminuição” do outro.
No atual estágio do conhecimento religioso e filosófico, da filosofia da ciência, da ciência, etc., não é possível afirmar uma verdade irrefutável de qualquer uma delas, sempre existe um "ingrediente" incômodo mas necessário, a fé. Fé aqui não tem nada a ver com algum credo específico, mas é aquele “ingrediente” do conhecimento humano necessário para, de alguma forma, alcançar o sentido do conjunto de todos os conhecimentos, pois não existe uma prova ou evidência final. A fé é incômoda porque queremos ter certeza última das coisas e ela nos “lembra” o tempo todo que essa certeza final não é possível. Ela é necessária para impedir que alguma lei (religiosa, científica, etc.) se torne em Deus. O que conhecemos sobre Deus ainda não é Deus. A fé torna possível o sentido de conjunto dos meus conhecimentos e abre espaço para o diálogo e a aceitação mútua, pois impede que aquilo que sei sobre o meu Deus seja elevado a Deus mesmo. Quando sei que o que sei acerca do meu Deus não é Deus mesmo, a pergunta sobre se o mundo surgiu do nada por meio do Deus cristão ou por meio lei da gravidade perde a sua relevância. A resposta à essa pergunta só é relevante enquanto “prova” de uma verdade que não é possível provar.
Mas, e por isso mesmo, o diálogo é fundamental.
Enquanto insistirmos que Deus é (apenas) o Deus cristão, ou o Deus muçulmano, ou o Deus dos indígenas, ou qualquer outro Deus associado a alguma religião estabelecida, teremos dificuldades de perceber a “existência” de Deus em outros lugares, por exemplo, nas ideologias, nas filosofias da vida, no Estado e na ciência. Também teremos difuculdade de perceber a “religiosidade” a ele associado. Para cada um desses, o Deus do outro não passa de (no máximo) um ídolo que deve ser combatido.
Por isso também Hawking (e outros) pode/precisa dizer que “Deus é desnecessário para explicar a criação”. Ele pode dizer isso pois já existe algo, além dos Deuses das tradições religiosas, que pode propor outras soluções para os grandes mistérios do Universo. Algo, segundo ele, mais confiável. A ciência faz essa reivindicação e não dá para ignorar isso. E ele precisa dizer isso, pois, para ele, as evidências e seu sistema de sentido "exige" isso dele.
Mas Hawking não pode simplesmente tirar Deus sem colocar algo no seu lugar. O lugar de Deus na vida dos humanos não pode simplesmente não-existir, nesse caso ele substitui Deus por uma lei física. Mesmo que já seja possível afirmar que o(s) Deus(es) das grandes e pequenas religiões é(são) redundante(s) na questão da criação, não é possível afirmar a não-necessidade de Deus mesmo.
A notícia segue:
"Porque existe uma lei como a gravidade, o Universo pode e deve criar-se a partir do nada. Criação espontânea é a razão para haver alguma coisa em vez de nada, para que o Universo exista, para que nós existamos", escreve Hawking. "Não é necessário invocar Deus para acender o pavio e pôr o Universo em movimento".É da “natureza” da ciência que ela busque a explicação e o controle sobre tudo. A busca de Hawking pelo casamento das teorias mencionadas ilustra isso. Encontrar e reconhecer uma "Teoria do Todo" seria colocar uma explicação final, um Deus. No momento em que se aceita uma lei que explica tudo, ela se torna o absoluto diante do qual precisamos nos curvar, ela se torna “religiosa” e seus adeptos se tornam “religiosos”.
[...]
Desde 1974, o cientista trabalha para casar as duas pedras angulares da física - a Teoria da Relatividade Geral, que trata de fenômenos de larga escala e da força da gravidade, e a Teoria Quântica, que cobre as interações entre partículas subatômicas.
Seu comentário mais recente sugere que ele rompeu com seu ponto de vista anterior sobre a religião. Antes, ele havia escrito que as leis da física apenas diziam que não era preciso acreditar numa intervenção divina.
No atual sistema de sentido, os diferentes Deuses precisam se excluir mutuamente para manter a sua verdade. Por outro lado, um sistema de sentido no qual se aceita que o Deus do outro (e seu grupo), mesmo que de forma incompleta, também dá a resposta adequada ao que o reverencia, torna mais fácil o diálogo. Se aquilo que em última instância confere sentido à nossa existência é Deus, então todos temos um Deus (não importa o seu nome). Esta forma de ver estas coisas, onde a verdade de um Deus não está em algum tipo de “prova” e sim no sentido que ele confere ao conjunto, fica mais fácil aceitar o outro e, assim, de forma adulta, discutir questões relevantes para as pessoas e seu mundo. Questões éticas (também para as religiões) precisam ser resolvidas a partir da interação de todos os Deuses, para o bem do indivíduo e seu mundo. Uma característica comum a todos os Deuses (inclusive da ciência) é o bem estar, a cura, a salvação da humanidade, porém, nessa busca a prática predominante até agora tem sido a da destruição ou “diminuição” do outro.
No atual estágio do conhecimento religioso e filosófico, da filosofia da ciência, da ciência, etc., não é possível afirmar uma verdade irrefutável de qualquer uma delas, sempre existe um "ingrediente" incômodo mas necessário, a fé. Fé aqui não tem nada a ver com algum credo específico, mas é aquele “ingrediente” do conhecimento humano necessário para, de alguma forma, alcançar o sentido do conjunto de todos os conhecimentos, pois não existe uma prova ou evidência final. A fé é incômoda porque queremos ter certeza última das coisas e ela nos “lembra” o tempo todo que essa certeza final não é possível. Ela é necessária para impedir que alguma lei (religiosa, científica, etc.) se torne em Deus. O que conhecemos sobre Deus ainda não é Deus. A fé torna possível o sentido de conjunto dos meus conhecimentos e abre espaço para o diálogo e a aceitação mútua, pois impede que aquilo que sei sobre o meu Deus seja elevado a Deus mesmo. Quando sei que o que sei acerca do meu Deus não é Deus mesmo, a pergunta sobre se o mundo surgiu do nada por meio do Deus cristão ou por meio lei da gravidade perde a sua relevância. A resposta à essa pergunta só é relevante enquanto “prova” de uma verdade que não é possível provar.
Mas, e por isso mesmo, o diálogo é fundamental.
post original http://rwb-ideias.blogspot.com.br/search/label/Deus
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