Uma Abordagem Alternativa

Um dos grandes problemas quando se fala em diminuir os efeitos das
mudanças climáticas é que a grande maioria das pessoas olha o problema
pelo ângulo errado e consequentemente soluções equivocadas são
apresentadas. E isso é resultado de como a mídia trata o problema,
sempre de forma sensacionalista focando as catástrofes, o chamado
terrorismo midiático. O resultado é medo e histeria, nublando a cabeça
das pessoas, impossibilitando um pensamento claro da situação.
Um bom exemplo desse comportamento é a frase de efeito que apareceu no trailer do filme “Uma Verdade Inconveniente”: De longe, o filme mais assustador que você jamais verá[2].
E isso não é o pior porque por volta de 2min e 22seg aparece uma
explosão nuclear, dá para acreditar? Vejam o vídeo no You Tube[2] e
confiram. Mas esse tipo de estratégia não é exclusividade de ninguém, é
só assistirmos o vídeo de abertura da conferência climática da ONU,
COP15 sediada em Copenhagen em 2009[3] que temos outro exemplo.
Não podemos esquecer que o objetivo não é reduzir os gases do efeito
estufa por si só, mas melhorar a qualidade de vida da humanidade e o
ambiente.
No filme “Uma Verdade Inconveniente”[4], Al Gore afirma que o nível dos
oceanos vai aumentar 6 metros até 2100 devido aos efeitos do aquecimento
global e apresenta uma projeção de computador onde uma parte
considerável de Manhattan (Nova York) e outros locais no mundo ficarão
debaixo d’água. Mas o próprio relatório do IPCC[5], que ele usa como uma
de suas fontes, diz que o nível dos oceanos vai aumentar cerca de 30
centímetros (na pior das hipóteses 59 centímetros) até 2100 e não 6
metros.
E qual a melhor forma de lidar com esse problema? É só olharmos para
os últimos 150 anos onde o nível dos oceanos subiu cerca de 30
centímetros e não foi uma catástrofe. Claro que convenientemente os
principais meios de comunicação não se importaram em nos dizer. A
humanidade se adaptou a essa mudança e o melhor exemplo é a Holanda que
tem uma parte considerável de seu território abaixo do nível do mar e
para lidar com a situação construiu vários e imensos diques evitando a
inundação.
Outro “fato” que Al Gore nos mostra é que devido ao aquecimento global
cidades que foram construídas acima da linha de mosquitos vão começar a
ter problemas com doenças como malária que tem o mosquito como agente
transmissor. E esse exemplo é interessante porque ele fala
especificamente que isso está ocorrendo em Nairóbi. O fato é: Nairóbi
tem problema devido à malária? Sim, sem dúvida. É devido ao aquecimento
global? Não, definitivamente não. O Professor Paul Reiter[6] do
Instituto Pasteur em Paris, nos lembra, que a malária já era um grande
problema na época da fundação de Nairóbi em 1899 e também que é uma
doença relacionada muito mais fortemente com a pobreza extrema do que o
calor[7]. Aqui no Brasil sabemos muito bem disso porque convivemos com a
malária, principalmente no norte do país onde temos temperaturas muito
elevadas, mas a doença não atinge proporções epidémicas como em certos
locais da África, ela está sob controle. Também não podemos esquecer que
mosquitos não são exclusivos de regiões quentes, hoje em dia qualquer
um que já assistiu algum programa na televisão sobre o ártico sabe que
lá também tem muitos mosquitos. Então a melhor forma de combatermos esse
problema é usar o dinheiro para diminuir a pobreza, principalmente com a
construção de redes de saneamento básico e água potável.
A questão dos ursos polares. Quem não fica comovido com a animação
mostrada em “Uma Verdade Inconveniente” de um urso polar nadando no meio
do oceano sem nenhum sinal de terra ou gelo. Praticamente ninguém é
contra a ideia de salvar os ursos polares, principalmente entre
crianças. É um tema que ecoa profundamente nelas e em menor grau nos
adultos. Mas resolveram omitir que ursos polares são exímios nadadores,
eles podem nadar até 100 quilômetros por dia. E também que sua população
está em crescimento. Em 1960 estimava-se que existiam 5 mil indivíduos,
hoje estima-se que sejam 22 mil. E mais uma vez somos conduzidos a
olhar o “problema” pelo ângulo errado. Se o Protocolo de Kioto fosse
completamente implementado (todos os países do mundo assinassem e
respeitassem) salvaríamos 1 urso por ano. Sabemos que o homem mata entre
300 a 500 ursos polares por ano então se realmente queremos ajudá-los a
melhor forma não é cortando emissões de CO2, mas parando de atirar
neles.[7]
Outro argumento muito usado é que o aumento da temperatura causará mais
ondas de calor e consequentemente mais mortes. Mas o que deixam de falar
é que em contrapartida várias pessoas deixarão de morrer de frio no
inverno. Estima-se que até 2100, 400 mil pessoas a mais morreriam devido
ao calor, mas em compensação 1.8 milhão não morreriam de frio.[7] Não
podemos esquecer também do efeito da ilha de calor urbana. As grandes
cidades do mundo colapsaram por causa dele? Não, elas se adaptaram. Não
acho que o aumento do calor nos centros urbanos seja bom, mas 1 ou 2
graus a mais não causará o fim do mundo.
Também vemos muitas reportagens da destruição devastadora que os
furacões estão causando hoje em dia. E tudo isso por que o aumento da
temperatura dos oceanos fará surgir mais furacões e mais fortes. Apesar
desse argumente ser questionável, não existe nenhum estudo científico
que prove isso, se realmente for verdade a maior destruição, hoje, no
litoral não é porque os furacões são mais fortes ou em maior quantidade,
mas porque existem mais pessoas e construções nessas áreas de risco do
que há 50 anos. É obvio que os danos causados por um furacão que passe
em um local desses hoje serão muito maiores que se o mesmo furacão
passasse no mesmo local 50 anos atrás.
Freeman Dyson, um dos mais renomados físicos vivos, disse que “‘Uma
Verdade Inconveniente’ é uma grande obra de propaganda” e argumenta que
os esforços políticos para reduzir as causas da mudança climática
distraem as pessoas de outros problemas globais que deveriam ter
prioridade.[7] Ele diz: “Não estou dizendo que o aquecimento não causa
problemas, óbvio que causa. Obviamente, devemos tentar compreendê-lo. Eu
estou dizendo que os problemas estão sendo grosseiramente exagerados.
Eles tiram dinheiro e atenção de outros problemas que são muito mais
urgentes e importantes. Pobreza, doenças infecciosas, educação pública e
saúde pública. Sem mencionar a preservação de seres vivos na terra e
nos oceanos.”[8]
Apesar de toda a discussão em cima do uso dos combustíveis fósseis a
verdade é que só vamos parar de usá-los quando outras formas de energia
forem tão baratas quanto ele. Por isso, um ponto chave, é que as
soluções propostas precisam ser de tal forma a tornar isso uma
realidade. Precisamos fazer com que seja mais barato não emitir CO2 do
que emitir.
As soluções propostas atualmente de cortar emissões de CO2 vão custar
caro e os efeitos práticos serão mínimos. Só para termos uma ideia de
números vejamos o Protocolo de Kioto. Se tivesse sido cumprido, reduzir
as emissões de CO2 para níveis abaixo dos de 1990 até 2012, teria
custado 180 bilhões de dólares por ano e a redução na temperatura teria
sido de 0.005°C em 2100.[7] Fica claro que ele é mais simbólico do que
qualquer outa coisa. Outro exemplo é a proposta da União Europeia de
cortar 20% das emissões de CO2 até 2020 incentivando as energias
renováveis. Isso teria um custo de 250 bilhões por ano e a redução da
temperatura seria de 0.5°C em 2100.[7]
Com essa quantidade de dinheiro de que estamos falando com certeza
existem outras alternativas que podemos implementar com o foco de fazer a
emissão de CO2 ser economicamente mais cara.
Um bom lugar para colocar parte desse dinheiro é na energia das ondas,
uma área que os principais meios midiáticos praticamente ignoram e a
tecnologia existe desde a década de 1970. A crise do petróleo do início
dos anos 1970 fez o governo da Inglaterra investir em formas
alternativas de energia. E uma das ideias que receberam financiamento
era a do Professor Stephen Salter[9] da Universidade de Edimburgo. Ele
inventou o chamado Salter’s Duck[7] (Pato de Salter), um dispositivo que
converte a energia das ondas em eletricidade através da rotação de
giroscópios localizados internamente. Ele inclusive criou vários
protótipos e conseguiu uma eficiência de cerca de 90%. Mas como sabemos
muitas vezes as coisas não fazem sentido, o programa das energias
alternativas era operado pela Agência de Energia Atômica do Reino Unido
(United Kingdom Atomic Energy Authority), e como foi antes dos acidentes
de Three Mile Island e Chernobyl, a prioridade e o dinheiro, claro, foi
para a energia atômica.
Outro dispositivo com o potencial de beneficiar enormemente a
humanidade que merece mais atenção e aumento de investimentos é a Célula
Fotoeletroquímica.[10] Muitas vezes chamada de fotossíntese artificial,
porque gera hidrogênio a partir de luz e água. Basicamente é uma placa
feita de um material especial, geralmente semicondutores, colocada
dentro de um recipiente com água. E quando a luz, solar ou não, incide
em cima da placa, começa a conversão da água em oxigênio e hidrogênio. O
problema é conseguir fabricar essas placas com baixo custo ou encontrar
materiais mais baratos para fabricá-la.
Outro boa ideia pode ser os chamados reatores nucleares de 4ª geração
(como base de comparação o reator de Angra 3 é de 2ª geração). Com essa
tecnologia, que só existe no papel por falta de investimentos, poderemos
resolver dois problemas de uma só vez. O problema de gerar energia sem
queimar combustíveis fósseis, óbvio e do lixo nuclear. Isso porque esses
reatores poderão usar o próprio lixo nuclear, que acumulamos durante
anos das usinas antigas, como combustível, diminuindo sua meia-vida para
20 anos (plutônio por exemplo tem meia vida de 24,200 anos) e assim
depois de 100-150 anos a radioatividade será mínima.[7]
Essa forma de encarar o problema do aquecimento global está sendo
proposta há alguns anos por algumas pessoas como Bjorn Lomborg que
muitas vezes são ridicularizadas pela mídia. Ele foi o idealizador do
Copenhagen Consensus em 2004, quando era diretor do Environmental
Assessment Institute (Instituto de Avaliação Ambiental) da Dinamarca. O
Copenhagen Consensus nasceu como uma conferência focada em priorizar os
problemas mundiais e encontrar as melhores soluções disponíveis baseadas
na análise custo-benefício. Na sua primeira conferência realizada, o
painel de especialistas reuniu oito renomados economistas, incluindo
quatro Prêmios Nobel.[11] Eles criaram uma lista com os principais
problemas globais; doenças, subnutrição e água potável estavam no topo
enquanto mudança climática acabou no final. Em 2006 foi criado o
Copenhagen Consensus Center[12], tendo como diretor o próprio Bjorn
Lomborg, sob os auspícios da Copenhagen Business School. O centro é um think tank
com ênfase nas mesmas ideias da conferência: focar menos no que é
“tecnicamente possível” e mais no que é realisticamente factível, ou
seja, nós poderíamos parar de emitir CO2 agora, mas o impacto para as
nações em desenvolvimento seria desastroso.
Como Lomborg diz: “Nós estamos amedrontando as crianças com exageros –
elas acreditam que não terão um futuro e que o mundo vai acabar”. E
ainda que “precisamos exigir que a mídia pare de assustar nossas
crianças e à nós. Precisamos de um diálogo mais racional, mais
construtivo e menos assustador.” [13]