sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Neopentecostais e Neocatólicos E SUA VISÃO SOBRE OUTRAS CRENÇAS

Intolerância ou COISAS DO DEMÔNIO ???
Nas últimas décadas vem ocorrendo um esforço um tanto estranho de reencantar o mundo. Durante o tsunami neoliberal as pessoas se recolheram aos seus casulos individuais, aos redutos religiosos, às suas crenças e crendices, em busca de segurança e alguma paz interior. O Estado,enfraquecido, deixou de dar as garantias de segurança, de vida e de liberdade.
É nesse clima de insegurança coletiva e, simultaneamente, de frustração com as muitas promessas não cumpridas pela Modernidade, que vemos as pessoas se ligando cada vez mais a esoterismos, a filosofias de vida alternativas, ao abandono das antigas crenças e religiões, assumindo uma espécie de religiosidade privada, por um lado, e algum tipo de fundamentalismo, por outro.
Neopentecostais e neocatólicos demonizam tudo que esteja relacionado às antigas crenças que admitem a sobrevivência da alma, a reencarnação, a mediunidade. Tudo que esteja fora de seus parâmetros de verdade, dos seus princípios bíblicos, tornam-se alvo de dúvidas, críticas e ataques. Parece que o Deus dos cristãos não é capaz de cuidar da sua criação e das suas criaturas, tendo que ocupar-se – permanentemente – em conter as trapalhadas e emboscadas de seu adversário histórico: o demônio.
Mas de qual demônio se fala? Do “daimon” dos gregos da antiguidade, um gênio ou ente sobrenatural, que acompanhou muitos dos antigos filósofos e pensadores, ajudando-os? Será que se referem a Baal (ou Baal Zebu) dos fenícios, que tornou-se o Belzebu dos cristãos católicos? Ou será de Lúcifer, um anjo decaído, que se rebelara contra Deus por causa de picuinhas celestes, e de propostas político-sociais diferentes daquelas que o Criador pretendia para a Terra?
E de que Deus (ou deus) se fala tanto? Do deus mesquinho que age como um rei terreno, necessitado de aduladores? De um deus-mercador que barganha dízimos, ofertas e oferendas por benesses materiais? De um deus guerreiro que incita a violência contra os “infiéis” (infiéis a quem?) que devem ser perseguidos e eliminados, até fisicamente se necessário? Diante das leis, atualmente mais severas, que impedem mandar gente para as fogueiras ou fazer emboscadas como na Noite de São Bartolomeu, restam a calúnia, a difamação, o ataque a crenças afro-brasileiras, a imagens, a tudo que “os outros” têm como certo e correto, e que lhes dá alguma estabilidade psicológica e emocional nesse mundo de ponta-cabeça.
Contudo, apesar de todas as garantias constitucionais, das Convenções assinadas pela maioria dos países no tocante às liberdades mínimas, às quais todo ser humano faz jus como direitos congênitos, as intolerâncias não só permanecem como aumentam, de forma sutil, velada, subliminar, ou de forma clara, com ataques diretos, verbais ou por escrito.
As ideologias sinistras não morreram com seus divulgadores mais conhecidos. Elas permanecem vivas e prontas para mostrarem suas garras, ainda manchadas com o sangue de muitos que pereceram por sua causa no passado remoto ou recente. As liberdades de culto e crença são violadas sistematicamente por uns e outros. Desde escritos como O livro negro do Espiritismo, de Frei Boaventura, passando por Orixás, Caboclos e Guias, do bispo Edir Macedo, até Espiritismo, a magia do engano, do pastor R. R. Soares, o que se vê é uma permanente disputa por hegemonia, poder e domínio das mentes através de verdades exclusivas e interpretações particulares de livros tido como sagrados. Por trás de tudo, está uma funesta demonstração de intolerância no campo da fé, e de desconhecimento das crenças alheias e dos seus direitos históricos de existirem, com ou sem o aval do Estado. A fé é questão de foro íntimo. Um direito e uma escolha essencialmente pessoal. Cada um tem o direito de escolher como se relacionará com a divindade, com ou sem mediadores, sejam pastores, sacerdotes, guias etc.
Principalmente as crenças anímico-mediúnicas são alvo dos fundamentalistas bibliólatras. Uma atenta leitura de qualquer um dos Evangelhos canônicos, com particular cuidado e atenção para com os ensinos de Jesus, e esses fundamentalistas encontrariam ali mesmo sua condenação. Fundamental é respeitar todas as crenças respeitáveis. Mas, é também necessário desmascarar os túmulos caiados, os falsos cristos e os falsos profetas, os fariseus hipócritas, os escribas aproveitadores. Aqueles mesmos contra os quais Jesus se insurgiu e que ainda existem em versão moderna, de terno e gravata ou não.
Muitas pessoas encontram-se tomadas por uma cegueira mental e espiritual que as incapacita de discernir entre o certo e o errado, entre o justo e o injusto. No fundo de tudo, a angústia, a fragilidade emocional, a dúvida humana sobre as antigas e permanentes perguntas: de onde vim, o que faço aqui, para onde vou? A vida é só isso: sobreviver um dia após o outro e depois morrer?
Texto Paulo R. Santos

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